Cresci em um ambiente que se falava muito
sobre pecado e punição. As melhores e mais bonitas coisas que enxergava na vida
eram-me proibidas, pois delas (diziam) procedia o mal. Bem assim a vida me foi
apresentada e menos por obediência e mais por medo, tentei seguir os mandamentos
que foram inventados por algum ser ignorante e frustrado.
Vi passar diante dos meus olhos os ciclos
da vida; neles refletiam a sobrecarga de receios, medos, perturbações, traumas.
Bem assim cresci. Mente carregada. Sobrevivente de histórias cansadas e,
sobretudo, mal contadas. Alma que lutava para conseguir o olhar de Deus, mas
sempre barrada por a falta de esperança uma vez que do pecado não conseguia
libertar-se. O pecado em sonhar, querer mais; o pecado em ouvir uma bela música,
em arriscar-se nos paços de alguma dança; em curtir um cinema, teatro, circo,
parque, coisas de criança.
Ao crescer, coube a mim a
responsabilidade e, também, o direito de observar os caminhos e fazer as escolhas. De
início, a vida parecia mais leve, mais bonita, cheia de opções. Agora era só
viver! Entretanto, presa por as raízes que dominava todo o caule, senti a
incapacidade de conduzir a vida com leveza e nobreza. Minha base revelou-se,
mais do que nunca, meu algoz; inimigo forte que abatia sem piedade. Reconheci,
finalmente, que mesmo fora das grades permanecia a mesma infeliz presa. Presa a conceitos; presa em mentiras ideológicas que foram incutidas em minha
mente.
Ao buscar o encontro com a diversão,
entreguei-me a ela e logo fui ridicularizada; por eles, por mim. Ao tentar
viver, perturbava-me por achar que estava infringindo as leis divinas, morais e
familiares. Cedo me desconcertei, nunca me achei e deixei de viver. Mesmo
quando nada era transgredido, sentia-me transgressora; minha mente me acusava;
não se fazia necessário pecar, para sentir-me pecadora; fui treinada e enxergar
pecado em tudo e, assim, ele passou a habitar dentro de mim.
Liliana
Almeida
16
de outubro de 2013.
Que texto maravilhoso Liliana!
ResponderExcluirMuitíssimo obrigada, caro Daufen Bach! :)
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir