quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

RESENHA: SENHORA - JOSÉ DE ALENCAR


O autor


          José Martiniano de Alencar, cearense de Mecejana, nasceu em 1º de maio de 1829. Seu nascimento, vida e obra deram-se em um momento especial, uma vez que estávamos nos firmando enquanto pátria, pois, em 1822 D. Pedro I, finalmente, realiza um movimento que, de certo, vinha ao encontro do desejo do povo brasileiro desde 1808: A Independência do Brasil. Baseado nisso Amora (1967: 62) diz que a Independência e a consequente concentração de nossas energias morais e materiais no sentido da definição da pátria brasileira, impuseram o trabalho de construção da história nacional.
          Em meio a toda esta junção de construções e mudanças, Alencar se desenvolve. Cursou Direito em São Paulo (1845-50) e, nesse período veio a criar uma revista semanal chamada Ensaios Literários, juntamente com alguns colegas do curso, aonde chegou a publicar seus primeiros ensaios. Voltou para o Rio de Janeiro após sete anos na cidade paulistana. Filho de um senador do Império acompanhava, desde sua infância, as reuniões e questões políticas; foi político conservador, monarquista, proprietário rural e, acima de tudo, absurdamente nacionalista. Aparece na literatura brasileira, após ter advogado um período no Rio de Janeiro, como autor de obras que representavam fielmente os seus pensamentos e sentimentos, sejam políticos ou sociais.
          Alencar escreveu peças de teatro e crônicas, mas foram os seus vários romances entre indianistas, rurais, históricos, regionais e urbanos que marcaram sua carreira. A seu respeito, Bosi (1970:151) diz o seguinte:

Alencar, cioso da própria liberdade, navega feliz nas águas do remoto e do longínquo. É sempre com menoscabo ou surda irritação que olha o presente, o progresso, a “vida em sociedade”; e quando de detém no juízo da civilização, é para deplorar a pouquidade das relações cortesãs, sujeitas ao Moloc do dinheiro. Daí, o mordente das suas melhores páginas dedicadas aos costumes burgueses em Senhora e Lucíola.
         
         Enfrentou problemas de saúde por conta de uma tuberculose que lhe atormentou por mais de duas décadas. Viajou, em 1877 para a Europa na esperança de conseguir a cura, porém foi em vão e no mesmo ano, dia 12 de dezembro, aos 48 anos de idade, acaba por falecer no Rio de Janeiro.


Entendendo a Obra

          Senhora é uma obra pertencente à escola literária Romantismo, que foi escrita em 1875 e pertence ao romance urbano de Alencar. Precursora do Realismo (entendemos desta forma, uma vez que em vários momentos durante a narrativa, encontramos traços característicos que mostram elementos da realidade. Evidenciaremos nas próximas linhas), retrata os costumes da sociedade fluminense e seus interesses financeiros. O autor destaca como a Corte enaltece a riqueza e como vive em constantes disfarces para mostrar-se sempre em glória.
          Bem engajada no Romantismo, a obra reflete uma sociedade movida pela burguesia, alimentada pela questão financeira. Uma sociedade que revestia-se em bailes luxuosos que trazia como intuito mostrar, uns aos outros, a alegria, a elegância, as finas vestes, etc. Poderia até ser intitulado “baile de máscaras”, entretanto, as máscaras não eram aparentes; era o disfarce que iludia a todos. A hipocrisia era a única coisa, de fato, real. Desta forma, o autor faz uma crítica à sociedade em que vivera, uma vez que é contemporâneo à obra.
          O romance é dividido em quatro partes e, apesar do tempo ser cronológico, não há uma linearidade quanto aos acontecimentos. Isto fica evidente no desenrolar das partes que começa, por exemplo, narrando os acontecimentos atuais em “O Preço” e segue nos contando sobre o que passara a jovem Aurélia, na segunda parte, intitulada “Quitação” e, seguidamente, a sucessão das demais partes, a saber: “Posse” (retoma a narrativa que se encerra na primeira parte) e “Resgate”. (desenrolar da trama). O foco narrativo dá-se em terceira pessoa, cujo narrador onisciente é sabedor de tudo que se passa no coração e mente das personagens.
         A obra traz como principal personagem Aurélia Camargo, moça pobre decepcionada com o amor, que, de uma hora para outra, herda uma grande riqueza por parte do avô paterno e maquina uma dolorosa vingança contra o ser amado e Fernando Seixas, um jovem que estudava Direito e amava a vida em sociedade, porém, era desprovido de dinheiro e isso o levou a crer que casando-se com uma moça rica evitaria a ruína financeira e conseguiria manter seus hábitos caros. Há também, destaques para as personagens: Lemos, Dr. Torquato Ribeiro, D. Firmina Mascarenhas, Adelaide Amaral, D. Emília, Lourenço Camargo e Pedro Camargo.


Senhora

         Senhora, como já mencionado nas linhas que antecederam estas é um romance que inicia a primeira parte falando sobre Aurélia em seus dias atuais. Obra tipicamente romântica, traz Aurélia como a “deusa dos bailes”, “musa dos poetas”. Características do Romantismo que “pintavam” suas personagens como algo extremamente sublime, divinizadas.
          Aurélia Camargo aparece com 18 anos de idade, extremamente rica e poderosa, inebriando a todos com sua elegância e beleza. Por ser órfã, vivia sob proteção da bondosa viúva D. Firmina que a acompanhava em tudo e tinha por tutor, seu tio Lemos, que, pelo gênio da sobrinha, ficava à disposição das vontades da moça. Constava, porém, que nem sempre Aurélia foi rica. Outrora, fora muito pobre, o que, por sinal, foi motivo para o início de uma grande amargura, pois, por pertencer a uma classe desprivilegiada foi rejeitada pelo noivo Fernando Seixas, que, por sua vez, era assíduo participante dos luxuosos bailes do Rio de Janeiro.
          Era filha da união de Pedro de Sousa Camargo, estudante de medicina, cujo pai Lourenço de Sousa Camargo era um fazendeiro rico e severo em suas decisões e Emília Lemos, moça pobre que vivia com o irmão mais velho Manoel José Correia Lemos. Desta união, nasceu, também, o primeiro filho que foi chamado de Emílio. Entretanto, a união de Pedro e Emília não foi muito longe, pois o irmão de Emília tratou de exigir de Pedro um documento que legitimasse a sua condição de único e legítimo herdeiro, para, então, poder casar-se. Porém, a esta condição Pedro não tinha como atender e, por assim ser, em comum acordo com Emília fugiram e casaram-se às escondidas, contudo, o sr. Lourenço, quando soube que seu filho vivia com uma moça a quem raptara, ordenou que deixasse a Corte e regressasse à fazenda. Assim, Pedro o fez e manteve em segredo, não somente seu amor, mas o casamento também.
          Após um ano de separação, Pedro Camargo voltou ao Rio e conheceu seu primeiro filho e, desde então, passou a frequentemente visitar a família e, nesse interim, nasceu Aurélia. O que Pedro não esperava é que seu pai exigisse que ele casasse com uma moça rica da região; esta exigência amedrontou sobremaneira o pobre rapaz que resolveu fugir, todavia morre, em um rancho, durante a fuga deixando a viúva e seus dois filhos. O dono do rancho encontra uma maleta que estava em poder de Pedro e faz menção de entregar ao sr. Lourenço, porém, esta ação veio acontecer anos depois.
          Enquanto vivia o pai, Aurélia e o irmão tiveram uma boa educação, porém, órfãos, passaram a viver em necessidade. Mais Aurélia, pois, frágil que era o irmão, veio logo a falecer, deixando a mãe ainda mais isolada e trancada em si mesma, apenas com uma única preocupação: futuro de Aurélia. Movida por esta preocupação, a mãe conseguiu induzir à filha a ficar na janela com o intuito de conseguir um marido e, assim, ela acabou por conhecer e apaixonar-se, perdidamente por Fernando Seixas.
         Vejamos que em todo este resumo da obra descrito até aqui, encontramos várias características que denunciam o comportamento da sociedade burguesa e seus interesses. Pedro era apenas estudante e, por assim ser, Lemos queria uma garantia que este teria algo a oferecer em troca da irmã. O pai de Pedro, por sua vez, nunca aceitaria que o filho casasse com uma moça pobre, para isso, tratou de arranjar uma moça rica para casar o filho. Aurélia, por costume da época, precisava, uma vez que não tinha como frequentar os bailes, expor-se à janela para ser cortejada.
          Fernando Seixas era moço pobre; morava com a mãe e duas irmãs. Viviam do aluguel dos escravos e da costura. Apaixona-se, também, por Aurélia e chega até pensar em casamento, mas, por possuir uma personalidade interesseira e “vício” em frequentar aos grandes bailes, desiste de Aurélia para aceitar casamento com Adelaide, por quem receberia um dote de trinta contos. Ora, aqui fica explícito o que Bosi (1970: 154) chamaria de mazelas de um mundo antinatural, ou seja, o casamento por dinheiro e, se firmará ainda mais minuciosamente quando Seixas deixará Adelaide por um dote ainda maior que lhe será oferecido, sem que este saiba, por Aurélia.
          Ao tempo em que algumas coisas sucediam, o sr. Lourenço ler do seu filho Pedro uma carta que contava toda a história que vivera com a Emília e pede-lhe perdão. O velho Lourenço a fim de reparar o erro procura a viúva e a neta e a faz sua única herdeira morrendo algum tempo depois, deixando-lhe toda riqueza que possuía e, não muitos dias adiante, morre, também, dona D. Emília “deixando Aurélia em completa orfandade”. Com a grande ajuda de Dr. Torquato Ribeiro, a jovem órfã foi morar com D. Firmina. A partir destes acontecidos, o romance toma um ritmo em que, por momentos, vê-se o autor entrando nalgumas características que assemelham-se às ideias do Realismo, pois, “escancara” a vida de Seixas ao mostrar que este “vende-se” para manter confortável seu padrão dentro da Corte. É mais real do que romântico.
        Procurando Seixas, Lemos, após uma astuta, envolvente e falsa conversa trouxe-lhe a seguinte proposta: “ – Fui encarregado por esta família que me honra com sua amizade de procurar a pessoa que se deseja, e minha presença aqui, neste momento, significa que tive a fortuna de encontra-la.” Lemos, por ondem de Aurélia, que possuía uma da grande habilidade maquiavélica e agora já riquíssima com a herança do avô, havia tramado o término do noivado de Seixas com Adelaide para que este ficasse livre a se submetesse à vingança da alucinada jovem. E assim, do jeito planejado e arquitetado aconteceu e então, Seixas e Aurélia se casaram.
        No Segundo Reinado, como já mencionamos anteriormente, era comum casamento por conveniência. Referindo-se ao fato do autor ter colocado no centro do romance, não mais um herói, como Peri (O Guarani), por exemplo, e sim um Seixas, Bosi chama o narrador de realista, afinal, Seixas acabara por se tornar um ser inferior, comum, sem nenhum indício ao heroísmo, sem idealizações. E, este mesmo Seixas, confiante, segue para a noite de núpcias e, qual não foi sua surpresa, quando Aurélia começa a “vomitar” tudo que havia dentro de si, dizendo: “A riqueza que Deus me concedeu chegou tarde; nem ao menos permitiu-me o prazer da ilusão, que têm as mulheres enganadas. Quando a recebi, já conhecia o mundo e suas misérias; já sabia que a moça rica é um arranjo e não uma esposa.”
          Os meses foram passando e, ainda dentro dos costumes da sociedade, Aurélia e Seixas, mesmo digladiando-se entre si, aparecem sempre sorridentes nas grandes festas e conseguem manter as aparências como “mandava” a sociedade. A vida de Seixas ficou dividida entre seu trabalho e ser “escravo” da dona que o comprara. Em tudo recusara o que pertencia à esposa. Esforçando nos seus afazeres, havia colocado dentro de si a ideia de restituir a sua liberdade. Ao que referente a esta parte da narrativa, podemos trazer Bosi (1970: 154) com a seguinte colocação:

[...] O equilíbrio perdido em termos de uma visão romântica do mundo, vai-se restabelecer porque Alencar arranjará uma solene redenção fazendo Seixas resgatar-se na segunda parte da história. O passo dado em direção ao romance de análise social fora uma concessão à mentalidade mercantil que repontava no fim do Império.

          Após tanto desentendimento entre o casal, a narrativa traz a aliança tão sonhada e esperada das obras românticas. Estes dois atores representantes da sociedade, alcançam, finalmente, a reconciliação. Certo dia, os dois brigando por causa de ciúmes (ela achando que o marido tinha algo com Adelaide e o marido achando que a esposa tinha algo com o Eduardo Abreu, que no passado fora apaixonado por ela), Seixas avisa que quer o divórcio e mostra que conseguiu o dinheiro (o valor do dote) para pagar sua liberdade. Aurélia, quando percebe que o marido está resoluto, abre o coração e declara que nunca conseguiu esquecê-lo e que seu amor permanece intacto. Fernando, na mesma disposição de espírito, recebe a amada em seus braços. E assim, “as cortinas cerraram-se e as auras da noite acariciando o seio das flores cantavam o hino do santo amor conjugal.”





quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A moça

          Súbito saí no horário de onde estava. Na calçada, olhei para o lado esquerdo e o direito. À esquerda parecia que a única direção possível era a contrária, pois a rua não era só escura demais, como parecia fechada por muros altos. Por ali impossível passar. Logo, trilhei na direção oposta; rumei por direita.
             A rua escura, um tanto deserta, passavam velozes por mim alguns carros. Não sei ao certo quantos; eu, um tanto apreensiva, seguia a pé.          
            Preocupada com o breu, avistei há alguns poucos metros de mim, uma pessoa. Pelos cabelos grandes e a finura do corpo, parecia uma moça. Apertei os passos tentando acompanhá-la. Ela seguia veloz e parecia não me notar e eu, correndo, tentava tocá-la ao ombro e insistia em chamar: “moça”, “moça”, mas era em vão. Embora ela parecesse tão perto de mim e tão acessível ao meu toque e ao som de minha voz, não conseguia encostar e nem ter sua atenção; inútil era meu esforço.          
           De repente, quase que em um piscar de olhos, tal como estava nítida à minha frente, como um raio, deixando só a faísca do rastro, sumiu. Desapareceu naquele horizonte sombrio. Aturdida, receosa, já em pânico, deparei-me em um lapso e nele fui levada à luz do entendimento.          
         Aquela moça veloz, indiferente e pretensiosa, era o Tempo.Em grande pressão anímica, moída e destroçada, conformei-me em saber que nunca iria mesmo acompanha-lo. Caí em mim, como em um poço seco e fundo e percebi como somos lentos e escusados numa esfera que em segundos foge à nossa vista e nos deixa vulneráveis.



segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Mais uma vida


De tantas vidas ela voltou...
Mudanças, estranhezas, mesma alma de muitas vidas e incertezas.

Tanto perdão e a mesma dor no coração!

Tomaram-na com escárnio e ela silenciou...
A voz, a emoção, a vida passou em câmera lenta à sua vista. 

Ela observou.
Fechou os olhos e deixou-se levar pela escuridão!

                                                                             
                                                                                                     (Liliana Almeida)

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Domínio de si


Em algumas brigas eu não entro por incapacidade!
Incapacidade de ser igual ao meu oponente, pois não posso me permitir ser aquilo que abomino.


(Liliana Almeida)

DEPRESSÃO

A depressão é uma doença que precisa ser cuidadosamente observada e tratada. Não é motivo de vergonha, não é indício de fraqueza.
As pressões externas, sejam no profissional ou pessoal, as rejeições, os assédios, a insatisfação consigo mesmo, a desconfiança, a falta de esperança, o "peso" da vida que, muitas vezes, torna-se maior do que se pode suportar, pode levar qualquer pessoa a colocar em risco sua saúde metal.
Portanto, não permita a você mesmo o abatimento emocional!
Defina um novo caminho para sua vida!

CUIDE-SE!!!

(Liliana Almeida)






Crentes

Quando ouço falar em crentes, minha memória, vividamente, remete à uma única ideia: mortos-vivos.
São, até onde lembro, criaturas que atacam sem piedade àqueles que possuem frescor que eles não têm.
São serzinhos doentes cuja "vida" é mantida por meio do esforço, suor e sangue de pessoas de boa fé.
São bichos irracionais que mantêm-se de pé, se alimentam, se fortalecem, sugando, devorando, dilacerando ingênuos que acreditando em uma causa maior, rendem-se às falácias virais.
São podres que infectam ao menor arranhão!
...
Há muitos males em nosso tempo e um deles é essa peste danosa que devasta mais do que fora devastado o Egito no período das pragas.

(Liliana Almeida)



#ELENÂO

Nestes tempos de intolerância e pouco senso, faz-se complicado esboçar qualquer palavra, pois a uma única letra "parimos" uma resenha não desejada.
Para o caos ser instaurado, basta um pequeno descontrole e nos colocarmos contra uma grande massa, alimentada pela cólera, é abrir fogo contra a nossa liberdade de manifestação / expressão, quiçá contra nossa moral e saúde mental.
Ainda assim, sempre andei na minoria e afugentei o senso comum, por assim ser, é que sem temor de perder o que não tenho, estou conscientemente com o #elenunca 👈
✌#

(Liliana Almeida)