sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Vítimas da Esperança




        Veja como é a vida, a somatória dos anos vai acontecendo e, cá, dentro de nós, algumas coisas nunca se ajustam. É como o cair da noite, a luz vai apagando até a completa escuridão tomar conta de tudo à volta. Parece pesado e até fúnebre, mas é assim que algumas vidas se dão. E a quem podemos responsabilizar? Há vertentes diferenciadas que podem formar juízo de valor a esse respeito; o bom mesmo é possuir repertório para que não maculemos o texto na ausência do contexto. Mas, deixemos para lá a linguística textual e voltemos ao que nos interessa.

          Ao meio familiar, religioso e social coube o “formar” nossas vidas. Dessas formas nunca conseguimos nos livrar, mesmo que elas apertassem sobremaneira a parte mais íntima e sensível que há em nós sempre fomos coagidos a permanecer com elas. Experimentar um novo formato ou “formatar” a velha forma sempre pareceu “blasfêmia” e, assim, permanecemos com a insatisfação crescendo dentro de nós, porém, ousar sair deste “sistema” alienado à mente daqueles que se sentem os guardiões das leis é verdadeiramente pedir para ser expulso do “arraial”. Não sobra misericórdia e menos ainda perdão. Resta em nós a divisão dicotômica entre o bem e o mal.

         Viver subjugado, temendo os ruídos externos é o que sobrou para muitos de nós, pois, ainda que isso não aconteça no momento presente, no campo da emoção é uma verdade constante dada às muitas implicações sofridas durante toda a vida. É um martírio à mente; somos vítimas de métodos desajustados, injustos e infieis, desde uma causa pequenina a uma maior. Isso provoca reação e nisso impera a “injustiça” da própria vida, pois, na tentativa de lavar a alma, de forçar a justiça acabamos em grande demérito. Não há direito de revidar ao ser moído e somos levados ao duplo sofrimento: ser vítima e ser malvado. E, por tudo que foi incutido ao nosso entendimento, passamos a viver em eterno “castigo”, punindo-nos até por aquilo que acontece em nossa vida de modo natural.

          O que o nosso entendimento pede é a pena daqueles que nos abalaram e esse desejo de retaliação nos faz mais pecadores ainda. A vossa boa compreensão diz que somos responsáveis por todos os danos que sofremos? A nossa anuncia que há responsabilidade em nós por sermos irrequietos e isso já é peso demais a carregar; não estamos admitindo nenhum outro; corremos o risco de nos acovardar. Em um dia desses que passou, disseram-nos que aos miseráveis resta a esperança. Ainda estamos absortos tentando entender de que esperança nos falaram. Nesta vida impregnada de agravos que se dá descaradamente ainda do nosso lado, esta tal esperança parece ser algo materializado somente no campo da imaginação. Conseguintemente, permanecemos cá, bem à margem.

(Liliana Almeida)

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