sexta-feira, 29 de novembro de 2013

“É melhor ser surdo ou escutar”?


          Um casal de vizinhos, que na labuta diária, costuma travar longos e intermináveis diálogos, começou, no dia de hoje, logo cedo.
          Uma manhã linda e ensolarada de verão, aquelas que o calor do sol só aquece e alimenta sem causar enfado, o casal, de repente, começa a dialogar; diálogos que são ouvidos ao som de alta voz; às vezes, parece mais que estão brigando um com o outro; entretanto, tenho a impressão que a fala alta faz parte da cultura do casal.

          A mulher que, parece lavar roupa – ideia suposta a partir do barulho incomodador que ouço de uma máquina – faz uma reclamação do esposo por conta de sua estadia fixa e permanente em casa. Parece falar sozinha, reclamar da sorte. Mas, de repente, mais ao fundo, ouve-se a voz do marido a dizer.

- Mulher, como vou trabalhar? tu sabe bem que não posso. O médico mesmo me disse.
- Claro que pode!  - falou a mulher. Mas não sei o que tu quer. Vive reclamando da vida, enchendo o saco, mas não tem coragem de pegar nem um “bico” porque quer ganhar sempre mais do que merece; mas isso é desculpa pra não trabalhar, seu burro!

          O marido, com voz exaltada, retruca dizendo que burro seria se cobrasse pouco pelo serviço que supostamente prestaria e insiste repetindo que não tem condições de trabalhar por ser debilitado fisicamente. Nessa constante, marido e mulher começam a acusar um ao outro e, já faltando repertório para a discussão, o marido começa a elencar as doenças que possui para reafirmar a invalidez que o impossibilita de trabalhar.

          Por conseguinte, ouve-se a disputa de quem carrega mais doenças. O marido diz que possui o tornozelo deslocado, para justificar que não trabalha por conta disso; a mulher grita que tem deslocada a clavícula e que, apesar disso, não para de trabalhar.

Marido: Tenho tendinite na mão direita
Mulher: E tu sabe que tenho má circulação
Marido: Minha pressão tá sempre alta
Mulher: Alta é tua preguiça. E eu que tenho diabete?
Marido: Isso não é nada perto da minha gastrite.
Mulher: É... tu tem tudo de ruim mesmo. E enquanto isso, eu é que coloco dentro de casa o pão.

          Depois deste embate sem vencedor, o silêncio compadece-se de mim e então, por alguns momentos reina. Ouve-se, muito a distância, o som do coração insistindo em bater. Bom, ainda há vida. E eu, que calado observo tudo, fico aqui a refletir: “é melhor ser surdo ou escutar”?!


Liliana Almeida

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Longe de mim


   

           Certa manhã, aquelas que sinalizam a chegada do inverno, acordei atordoada e ao reparar no relógio percebi que estava atrasada. Acelerei meus passos ao banheiro e no caminho acabei tropeçando e cai. Ainda antes da costumeira irritação, parei e permaneci sentada ao chão. Por alguns instantes fiquei quieta, imóvel, olhando o nada e foi então que percebi.

      Com a pressa do tempo e as obrigações mundanas tudo foi se dando rápido demais! Os acontecimentos parecem que circulam entre nós mais rápido que a velocidade da luz e, assim, passamos despercebidos; das coisas, das pessoas e de nós. Lemos, vemos ou comentamos, mas tudo visita as nossas emoções de modo superficial. Chega nela e nela mesmo se dissolve; não permitimos, mesmo inconscientemente, que suba ao coração. Tantas coisas roubam nossa atenção, mas estamos desacostumando a emoção da entrega, da afeição, dos detalhes que definem as relações. Será que é tempo que nos falta para perceber?

         A modernidade do tempo presente nos induz à dureza do coração e estamos nos adaptando facilmente e silenciosamente à insensibilidade. Quase não nos permitimos a graça de observar e sentir: sentir o sol, sentir o frio, o amor, o desamor, a alegria, a tristeza. Parece-me que a aceleração do tempo levou consigo as nossas sensações. Levou de mim os sentimentos!

         Hoje me olhei. Percebi! Descobri que não sinto nada, nem de bom nem de ruim. Percebi que se a manhã está fria ou quente, não faz diferença; não enxergo nelas nem boniteza nem horrorosidade. Percebi que acabei por descuidar-se de mim mesma e me esqueci. Meu coração encontra-se longe de mim; não sei aonde vim parar. Onde é esse lugar? Por favor, alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha; alguma alma, mesmo que penada, me empreste suas penas; eu já não sinto amor, nem dor; já não sinto nada.”



(Liliana Almeida)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O pecado que habita em mim






      Cresci em um ambiente que se falava muito sobre pecado e punição. As melhores e mais bonitas coisas que enxergava na vida eram-me proibidas, pois delas (diziam) procedia o mal. Bem assim a vida me foi apresentada e menos por obediência e mais por medo, tentei seguir os mandamentos que foram inventados por algum ser ignorante e frustrado.

      Vi passar diante dos meus olhos os ciclos da vida; neles refletiam a sobrecarga de receios, medos, perturbações, traumas. Bem assim cresci. Mente carregada. Sobrevivente de histórias cansadas e, sobretudo, mal contadas. Alma que lutava para conseguir o olhar de Deus, mas sempre barrada por a falta de esperança uma vez que do pecado não conseguia libertar-se. O pecado em sonhar, querer mais; o pecado em ouvir uma bela música, em arriscar-se nos paços de alguma dança; em curtir um cinema, teatro, circo, parque, coisas de criança.

       Ao crescer, coube a mim a responsabilidade e, também, o direito de observar os caminhos e fazer as escolhas. De início, a vida parecia mais leve, mais bonita, cheia de opções. Agora era só viver! Entretanto, presa por as raízes que dominava todo o caule, senti a incapacidade de conduzir a vida com leveza e nobreza. Minha base revelou-se, mais do que nunca, meu algoz; inimigo forte que abatia sem piedade. Reconheci, finalmente, que mesmo fora das grades permanecia a mesma infeliz presa. Presa a conceitos; presa em mentiras ideológicas que foram incutidas em minha mente.

       Ao buscar o encontro com a diversão, entreguei-me a ela e logo fui ridicularizada; por eles, por mim. Ao tentar viver, perturbava-me por achar que estava infringindo as leis divinas, morais e familiares. Cedo me desconcertei, nunca me achei e deixei de viver. Mesmo quando nada era transgredido, sentia-me transgressora; minha mente me acusava; não se fazia necessário pecar, para sentir-me pecadora; fui treinada e enxergar pecado em tudo e, assim, ele passou a habitar dentro de mim.


Liliana Almeida
16 de outubro de 2013. 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Vítimas da Esperança




        Veja como é a vida, a somatória dos anos vai acontecendo e, cá, dentro de nós, algumas coisas nunca se ajustam. É como o cair da noite, a luz vai apagando até a completa escuridão tomar conta de tudo à volta. Parece pesado e até fúnebre, mas é assim que algumas vidas se dão. E a quem podemos responsabilizar? Há vertentes diferenciadas que podem formar juízo de valor a esse respeito; o bom mesmo é possuir repertório para que não maculemos o texto na ausência do contexto. Mas, deixemos para lá a linguística textual e voltemos ao que nos interessa.

          Ao meio familiar, religioso e social coube o “formar” nossas vidas. Dessas formas nunca conseguimos nos livrar, mesmo que elas apertassem sobremaneira a parte mais íntima e sensível que há em nós sempre fomos coagidos a permanecer com elas. Experimentar um novo formato ou “formatar” a velha forma sempre pareceu “blasfêmia” e, assim, permanecemos com a insatisfação crescendo dentro de nós, porém, ousar sair deste “sistema” alienado à mente daqueles que se sentem os guardiões das leis é verdadeiramente pedir para ser expulso do “arraial”. Não sobra misericórdia e menos ainda perdão. Resta em nós a divisão dicotômica entre o bem e o mal.

         Viver subjugado, temendo os ruídos externos é o que sobrou para muitos de nós, pois, ainda que isso não aconteça no momento presente, no campo da emoção é uma verdade constante dada às muitas implicações sofridas durante toda a vida. É um martírio à mente; somos vítimas de métodos desajustados, injustos e infieis, desde uma causa pequenina a uma maior. Isso provoca reação e nisso impera a “injustiça” da própria vida, pois, na tentativa de lavar a alma, de forçar a justiça acabamos em grande demérito. Não há direito de revidar ao ser moído e somos levados ao duplo sofrimento: ser vítima e ser malvado. E, por tudo que foi incutido ao nosso entendimento, passamos a viver em eterno “castigo”, punindo-nos até por aquilo que acontece em nossa vida de modo natural.

          O que o nosso entendimento pede é a pena daqueles que nos abalaram e esse desejo de retaliação nos faz mais pecadores ainda. A vossa boa compreensão diz que somos responsáveis por todos os danos que sofremos? A nossa anuncia que há responsabilidade em nós por sermos irrequietos e isso já é peso demais a carregar; não estamos admitindo nenhum outro; corremos o risco de nos acovardar. Em um dia desses que passou, disseram-nos que aos miseráveis resta a esperança. Ainda estamos absortos tentando entender de que esperança nos falaram. Nesta vida impregnada de agravos que se dá descaradamente ainda do nosso lado, esta tal esperança parece ser algo materializado somente no campo da imaginação. Conseguintemente, permanecemos cá, bem à margem.

(Liliana Almeida)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Já imaginou o que pode ser o inferno?





          Em um dado momento você se encontra em um lugar parecido com o que fora (por momento vamos chamar assim) uma chácara. Uma bela vista, o sol iluminando a relva, o suave cantar dos pássaros ao amanhecer, jardins com flores fascinantes; piscina com vista para um rio sem fim e uma encantadora mansão que aconchega os convidados. Mais ou menos isso, sem deter-nos em demasias às descrições. Por apenas parecer com o que foi, o que de fato agora é, tornou-se pesado, envelhecido; paisagens com as cores desbotadas, sem luz, sem brilho; carregado por densas trevas que chegaram para não mais sair.

          Repentinamente, sem quase nada entender, depara-se com várias pessoas alegres, festeiras, hospedeiras que, de tanta afabilidade, passam a servir-te em tudo que deseja e oferecem tudo existente na terra que sempre almejou. Na inexatidão desta realidade, sente-se como em um paraíso. Distraído, começa a divertir-se. Melhores whiskys à disposição, sem medidas; mulheres variadas sem censuras; charutos, cigarros, drogas diversas, jogos, dinheiro no ar. Qualquer coisa para te fazer ainda mais feliz, livre, desimpedido de responsabilidades; muitas conversas, gargalhadas; lugar de delícias sem fim.

          Nesta aventura vai vivendo, as horas passam, as diversões multiplicam-se. E tudo vai se dando exageradamente eu tua vida, como férias contínuas. Teus anfitriões não se cansam e não permitem a ti o repouso. Por vezes, usando o mesmo instante, todos o cercam; conversam contigo ao mesmo tempo, contam piadas, enfiam-lhe bebidas goela abaixo. As mulheres insaciáveis despem-no com ultrajante malícia e, sem saída, permanece horas em coito com elas. Já exausto, extremamente fatigado, sufocado pelos excessos, limite de suas forças esgotado esquiva-se à procura de um tranquilo lugar ansiando o dia clarear.

        Avista um canto arredio e encaminha-se pra lá. Joga teu corpo cansado e, algo como uma cama, o apara; deita tua cabeça aturdida e sente falta do lar. No meio minuto do teu respirar, instantaneamente, tudo volta a revelar-se. As mulheres o agarram, o sugam, te puxam de todos os lados; as gargalhadas zunindo aos teus ouvidos, bebidas introduzidas dilacerando tua garganta, entorpecendo tua boca; tumulto, barulho reunidos ao teu redor, sob tua cabeça, sobre teus pés.

       Desespera-se e “range os dentes”; tenta encontrar um lugar de paz, mas descobre que o sossego acontecera um dia, agora aquém para você; chora amargamente por entender que a aurora nunca mais raiará. Corpo pesado sem opção de como sustentá-lo, olhos gastos pela escuridão, ouvidos sangrando pela imperfeição dos agudos ruídos. Nenhuma força o poderá salvar, nesta constante, vivenciando a todo instante a sequencia dos acontecimentos, permanecerás neste lugar!

        Com a alma contorcendo-se em dor, desespero que não cabe às palavras explicar, cai em si. Tomado por angústia, sofrimento e muito lamento lembra de si mesmo e tem por esclarecido que sua vida passou. Enxerga-se condenado perpetuamente! Os teus feitos em vida te arrastaram a esse lugar. Agora a eternidade é tua consciência a consumir-te e a te torturar. É ela que não te permite pausa; te faz esgotar-se sem te eliminar; te mata sem te permitir morrer. Dela, não mais te livrarás, ela agora é teu lugar. A tua consciência, caro amigo, a devorar-te noite e dia sem cessar, é o inferno que nunca pensou evitar.

(Liliana Almeida)



segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ignorada comunhão


“Tenho uma preocupação séria a compartilhar com vocês, meus amigos, pela autoridade de Jesus nosso Senhor. Tentarei ser o mais direto possível: vocês precisam aprender a entrar em acordo. Devem ter consideração uns pelos outros, cultivando a vida em comum.” (I Co 1;10 – A  Mensagem)


          Houve um tempo em que a comunhão era preciosa entre os pares, entre os irmãos.  A dor sofrida por um era sentida por todos e, em momentos assim, mesmo que as palavras fossem dispensadas, o silencio transmitia fidedigno os sentimentos que fortaleciam as relações. O encontro das almas era verídico e isso significava muito e bastava; subsequentemente, era como as águas que sobravam dos rios e corriam saudavelmente aos mares. Tudo era soma!
       O perder de um, era a tristeza de todos; a alegria de algum, a todos contagiava. Não faltava a relevância; todos tinham sua significância. Em uma multidão de cem, a ausência de uma era arrasadora aos corações; as noventa e nove aguardavam o resgate da amiga perdida com emoção. Era um tempo em que havia disposição para o perdão.
          Porém, nestas mutações hodiernas, o tempo levou consigo a comunhão! A humanidade se perde! O amor compromete-se com o descaso; a amizade vibra por interesse próprio; as relações falindo cada vez mais. Hoje, minha tristeza não o sensibiliza, sua alegria não me faz festejar; minha dor não o comove, suas lágrimas não me fazem chorar.
        Vivemos em um tempo em que calar às agressões é covardia, amar é estupidez, perdoar é fraqueza! A comunhão preside enquanto for de interesse das partes beneficiar-se de alguma forma; o crivo da clareza, pureza e nobreza deixou de existir; tudo tornou-se uma mistura tóxica, um lixo químico que inflama e corrói e que em qualquer instante, pode explodir. A satisfação da irmandade foi deixada para trás; a comunhão deixou de existir.
         Deixamos de observar o Cristo, mesmo quando anunciamos o Céu e, assim, nos assemelhamos ao senso comum caminhando a passos largos, em um caminho largo, almejando, sozinho, o primeiro lugar.


(Liliana Almeida)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Carta para um amigo distante



          Veja como é a vida! Não sou nem uma Lembrança, mas costumo ser consumida por ela. Em um ponto no tempo que é só meu, me pego presa às lembranças que tenho de ti. Algumas, já até perdeu a viveza; estão como papel desbotado que foi consumido pelos muitos períodos passados. Fora aquelas que não me sobrou a capacidade de inventar, existem alguns momentos em que determinadas canções, autores, livros e instantes refletem o teu rosto;  sorridente às vezes, outras, sério a engendrar tuas reflexões. De igual modo, as mesmas canções e instantes, remetem-me às tuas piadas que, de sem graça na maioria das vezes, arrancavam meu sorriso; talento peculiar teu.

          Tenho pra mim que talento é algo inerente a ti. É teu dom saber amar intensamente e, também, não saber amar; saber interpretar o mundo e filtrar o que de bom existe nele; saber transportar as pessoas e coisas para intermináveis páginas e fazer suscitar as entrelinhas, fundamentais, que poucos têm a capacidade de ver / ler; saber esboçar belos sermões que ligam as almas a Deus e as conduzem ao Céu.

          Bem assim és, o “atleta” dos extremos! Um ser humano condicionado, sensível e acolhedor e, ao mesmo tempo, à parte a cronologia, és absoluto, severo e seletivo. Esta é a figura que desenho de ti. Assim minha alma o pinta. Contudo, não és diretamente responsável pelo devaneio de minha mente. Muitos de nós, seres humanos, vez ou outra, fica cambaleando sobre a linha tênue que divide a sensibilidade e a loucura e leva a alma a delirar inquieta pela falta que alguém faz.

          Em alguns momentos parece que ouço tua voz interpretando alguma canção, aquelas que são teu retrato, e logo me lembro de ti; é como a conhecida raposa no meio do trigo recordando o principezinho. São devaneios provocados pela saudade que leva o âmago a chocar-se com a solidão que tua ausência provoca. Senti-me cativada e logo meu coração foi entregue a ti.

          Alguém antes de mim disse que amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves dentro do coração. Igualmente, continuas bem guardado no lado esquerdo do peito independente do que dizem o tempo e a distância. Voaste, mas no meu pensamento permaneceste. Portanto, aconteça o que tiver que acontecer, passe quantas estações precisarem passar, mas qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar; qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar!


(Liliana Almeida)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mantendo a esperança frente às tempestades


“ E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma não pequena tempestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos.” (Atos 27:20)



Em toda nossa trajetória de vida, se considerarmos os verbos “sofrer”, “chorar”, “perder”, nos tempos pretérito perfeito e/ou pretérito imperfeito encontraremos uma constante, seja por um motivo ou outro. A vida é bem assim, às vezes chega com algumas interrupções que parecem ser fatais. Não é por sermos filhos e servos de Deus que teremos uma vida sempre ajustada.

Esta realidade nos inquieta sobremaneira! Os que já experimentaram a amargura, especialmente, não desejam outra coisa que não seja satisfação. Uma vida de percalços, opressões, misérias, desenganos, não é própria para um cristão.

Enganamo-nos! Ao voltarmos nossa atenção para a bíblia, encontramos um homem que tinha sua vida dedicada à causa do evangelho de Cristo deparando-se com as mais terríveis situações e, tantas vezes, perigo de morte. Lucas, relata em Atos 27 a trajetória deste servo de Cristo lutando pela sobrevivência ao enfrentar a “fúria” de uma violenta tempestade que parecia não ter fim. Cenário em que o sol e as estrelas foram constrangidos a não aparecer, deixando, assim, o servo do Senhor e os seus companheiros sem esperança de salvação.

As tempestades e as densas trevas afugentam a esperança! Elas sugam a nossa força e sufocam-nos até fazer da dor, doença crônica; emoção debilitada, pressão anímica e variadas inquietações passam a reger o nosso contexto de vida. A esperança de nos salvarmos parece não existir. E agora?

 “[...] A noite esfriou / o dia não veio / o bonde não veio / o riso não veio / não veio a utopia / e tudo acabou / e tudo fugiu / e tudo mofou / e agora, José?” (Drummont)

Porém, o servo de Cristo, ainda em tempo, com toda força e empolgação dadas pelo Espírito Santo, levanta-se e, com a alma já renovada, diz: “Admoesto-vos a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós...” (v. 22).

Assim sendo, parafraseando Santo Agostinho, podemos dizer: Só na graça da tua misericórdia, ó Senhor, colocamos toda a nossa esperança!


(Liliana Almeida)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Andarilho





Preso a um mundo, vagabundo;
Vagando por dias sem fim
À procura de um novo rancho
Ninho, repouso, morada, enfim.

Não conhece a crença, Deus?
Universo sem explicação, sem chão;
Estrelas, planetas, cometas, cosmovisão.
Pegadas presas em um mundo de cão.

É só miragem e assombração
Num eterno deserto de enganação
Rosto suado, cansado, perde a visão;
Morre o que bate no peito, coração!

(Liliana Almeida)

terça-feira, 4 de junho de 2013

A dor do que traiu




Um simples homem, sem grandes perspectivas e concepção nenhuma de qual rumo teria sua vida, de súbito, passou a experimentar caminhos diferentes dos quais nunca havia trilhado. Corajoso e dono de uma espontânea motivação, permitira ao seu coração o alento de palavras que, não só o comovia, mas o impulsionava a querer adentrar ainda mais este caminho que, embora avisado, não possuía tanta noção.

Alimentou-se do melhor banquete e a água que lhe saciava a sede oriunda da fonte que, em estação nenhuma, cessava de jorrar. Titubeou nalguns momentos, porém, não arrefeceu a totalidade de suas forças. Com humildade aceitou as advertências e tomou nota das lições que lhe proporcionou crescimento e o conduziu ao aprendizado. Assim, foi firmando sua identidade, sua crença; tornou-se convicto.

O tombo inesperado haveria de acontecer! O perigo jazia às portas! O medo assuntava querendo roubar-lhe a “velha “ convicção; buscando equilíbrio em alguma base firme, sentia os pés pesados arrastarem-se ao chão.  E agora, o que poderia aquele homem fazer? Escondeu-se para não ser reconhecido, entretanto, não observou o adentrar da madrugada que tocava sua face fria.

Terrível foi o choque que sofreu o seu coração ao ouvir o galo cantar! Imaginou os olhos do seu melhor Amigo mirando seu olhar. A amargura feriu suas entranhas que, com o coração dilacerado o fez chorar! Reduzido à solidão, sem base que o pudesse sustentar, sentindo-se uma ignóbil criatura resignou-se ao silêncio, ao pensar.

Suicidar-se? Jamais!
Com verdadeiro arrependimento, superou a si mesmo, retomou seus passos e recobrou sua identidade, tornando-se, sem hesitar, um legítimo e fiel seguidor daquele a quem traíra; daquele que foi seu Caminho, Verdade e Vida, por toda estadia até que a terra lhe amparou e o céu o acomodou.


(Liliana Almeida)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Uma releitura da leitura contemporânea



          Tomamos como pressuposto, nesta oficina, a concepção de que a leitura deve ser um ambiente de interação e integração. Uma interação que ocorre entre o autor, o leitor e o tema proposto.
          Comumente, ouvimos falar sobre a importância da leitura na vida de homens e mulheres. Freqüentemente, fala-se da necessidade de cultivar o hábito de leitura entre adolescentes, jovens e sobre o papel da escola na formação de leitores capazes. Concordamos e, também, assumimos tal discurso, mas precisamos enfatizar discussões como: O que é ler? Para que ler? Como ler? Há uma gama de respostas a estas perguntas, todavia nos inquietamos com o desprazer que alguns sugerem existir no processo de leitura.
          A leitura de um texto exige muito mais que o simples conhecimento ou respostas que definam o que é ler, para que ler e como ler. O leitor é levado a invadir uma série de estratégias, tanto de ordem linguística como de ordem cognitivo - discursiva. Tais estratégias como fim, levantar hipóteses, validar ou não estas hipóteses, tentar preencher as lacunas que o texto apresenta, ou seja, ler é participar ativamente na construção de sentido existente o texto. O leitor precisa ser convencido de que ele é um “estrategista”, interagindo na, com e pela linguagem.

[...]

(Parte de um trabalho apresentado no primeiro semestre de 2010 turma de Letras da Faculdade Anhanguera - Francisco Heraldo / João Batista / Liliana Almeida / Neuzi Toledo)

Minha Sorte



“Só fechamos os olhos e confiamos se soubermos acreditar na mão que nos segura.”
(Trecho de Cartas entre amigos – Pe. Fábio de Melo e Gabriel Chalita)


Setembro de 2012, quando estava distraída e crente que a vida seguia normalmente, fui acometida, se súbito, por uma doença que me levou a ficar hospitalizada e a parar minha vida por uns meses.

Deparar-se com a fragilidade da vida, olhar-se no espelho e sentir que tudo estar mais limitado do que o entendimento sempre sugeriu, deitar sem a certeza que o amanhã existirá (embora o amanhã não seja certo, acreditamos que é e o projetamos), nos faz sentir sem poder nenhum; nossa vontade fica condicionada à misericórdia e amor de Deus. Ficamos como crianças indefesas almejando os braços do Pai. (claro que esta é minha experiência, não uma verdade universal).

Passado cinco meses, sob constante cuidado, abraçada à insegurança e incerteza, tentando manter a saúde da mente, uma vez que a do corpo parecia escapar-se às mãos, eis o regozijo:
Assim como repentinamente adoeci, alcancei, de repente, a graça esperada: estou totalmente recuperada! O meu sangue corre puro nas veias. Estou curada!

Agradeço a Deus por a recuperação de minha saúde.
Agradeço a todos que dedicaram alguns minutos de seus tempos e oraram por mim.

(Liliana Almeida, 26 de Fevereiro de 2013)