sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Duas faces em um só retrato





          Acabei de chegar! Vim de muito longe; 25 anos de distância. Tudo parece muito diferente, só eu que não. Mas isso era o que pensava antes de colocar-me frente ao espelho. Porém, por momento, deixarei o espelho de lado, não importa a mim esta realidade. Ah os sonhos! O que são, não é? Para alguns são uma projeção de uma possível realidade, para outros, são apenas fantasia e imaginação que acabar-se-ão perdidos na memória cansada.
          Sabem, quando chega este cansaço, nós, já vividos, parece que queremos resgatar nossa identidade por meio da memória e assim sentamo-nos e fitamos nosso olhar perdido no aparente “nada”. Um nada para os que nos observam, mas nós, do olhar perdido, nem ali estamos. E foi assim que fui aos 25 anos atrás e vi e, acreditem vocês, quase revivi.  Dos meus lábios trêmulos escaparam algum sorriso; meus olhos já quase cobertos pelas expressões que o tempo não perdoou, cintilaram-se por algum momento e na sequência até uma lágrima brotou.
          É, na São Paulo de 1900 e alguns, minha vida foi uma aventura! E, à parte toda situação vivida pelo país, eu me diverti. Entre sofrimentos e alegrias, paixões e desilusões, amores que se iam e outros que cedo vinham, amigos que chegavam e outros que partiam; entre um livro e um rock, entre beijos e abraços dos amigos e inimigos, dos chegados e desconhecidos, entre uma bebida e um cigarro, entre o desatino e a lucidez, eu aprendi. Não fossem os fatos vivenciados, eu nem estaria aqui.
          Mas olhando nitidamente de modo cronológico a vida que se foi, como que passando a vista sobre linhas escritas em um livro, esperava outro desfecho. Não sei se pulei algumas páginas e perdi a sequência dos fatos ou se, de fato, quando a situação era real eu me perdi e por tal razão o final não foi o desejado. Ah vida! Quem ficou devendo a quem? Meto-me dentro de mim mesmo e me pergunto; depois respiro fundo e silencio.
          Como eu saberia que algumas lacunas deveriam ter sido preenchidas de outra forma se não as tivesse desenhado assim? É pelo quadro da vida que desenhei que a existência se mostra para mim desta forma agora. É um retrato desalentado, mas não feio. Nem sempre é possível achar ânimo quanto tudo que nos restam são as lembranças e a falta de tempo para corrigir alguns detalhes!
          Porém, eu não disse a pouco que percorrendo minha cansada vista sobre as linhas do livro da minha vida até sorri? É que no final as coisas parecem embaraçar-se e aí a gente recorre ao começo para tentar entender alguns pormenores e acabamos por nos perder entre o que foi e o que poderia ter sido. É um descuido; vacilo dos que se metem enveredar pelo emaranhado das memórias passadas; o que atraem para si é um verdadeiro labirinto.
          Esta linha do tempo me deixou perdido! E agora, a essa hora, já não terei tempo de encontrar-me. E então, seguirei assim, entre um tempo e outro, sem entender mais o que foi e o que é; sem distinguir entre o real e o imaginário, sem reconhecer o meu retrato, evitando encarar o espelho para não encontrar um desconhecido. É...na bagunça de minhas memórias me perdi e não me fiz entender! Então, voltarei meu olhar ao nada e permanecerei no mundo da ilusão e vocês, talvez, olharão para mim e nada entenderão. Nada enxergarão. Entretanto, adiante, acharão duas faces em um só retrato: o vosso. Então saberão o que sei agora e compreenderão.

(Liliana Almeida)


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Combate das Faces






Quero beber na praça, tropeçar nas ruas com um litro na mão,
Gritar, cantarolar, ainda que desafinado, uma bela canção.
Experimentar um cigarro amassado e depois cuspir no chão.
Quero festejar a tristeza de minh’alma sem nenhuma inquietação!

Somos muitos vagando pelo centro querendo chamar atenção
De todos estes que sou eu, de um deles tu não escapas:
É a tua face negando a exposição. Então, não me perturbes, não me esnobes;
Pois de todos estes que sou eu, tu és a mais covarde.

Não estou aqui por ti! Vim tropeçando ébrio buscando encontrar a mim
Jogando ao léu uma a uma das máscaras, estou quase chegando ao fim
Veja agora no meio da praça! Já não há máscaras, só a triste cara desnudada.
Agora me deixe descoberta aqui à margem e fuja da verdade arrastando a tua cara pesada.


(Liliana Almeida)


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Cristo? Cristão?


Texto escrito em outubro de 2011, mas combina ainda com os dias atuais...



Tenho por certo que minha ignorância a cerca de Cristo é superior ao conhecimento que tenho Dele. No entanto, existem algumas vertentes expostas e manifestadas por alguns cristãos que brotam em mim a dúvida, incerteza e confusão.

Se Cristo é amor, onde está o perdão?
Se Cristo é mansidão, onde está a paciência?
Se Cristo é misericórdia, onde está a piedade?
Se Cristo é comunhão, por que a partilha?
Se Cristo é paz, por que a desunião.
Se Cristo é Luz, por que tanta escuridão?

Sendo Cristo o único Caminho que nos conduz ao Pai, alguns cristãos estão transviando esta passagem!

MAS...Quem sou eu?

“Maria Madalena” sem arrependimento? (Lc. 7: 37)
O “Pedro” que nega a Jesus e não muda? (Mt.26:75)
O “Tiago” que quer posição? (Mt.20:21)
O “filho pródigo” que nunca retorna ao lar? (Lc. 15: 12)
Não, não... Possivelmente o “Judas” que trai e se enforca motivado por remorso! (Mt. 27: 5) Portanto, morri e palavras de defunto não existem.

Não sou exegeta e não gozo do domínio na prática da arte da hermenêutica, mas na ignorância (de inicio) adotei, atrevidamente, a maiêutica.
Não pesquisei (salvo as referências bíblicas) e não pensei muito sobre o que acabo de escrever. Apenas, por um segundo, refleti um pouco sobre o que é Cristo e entendi que é exatamente o que não Somos.

(Liliana Almeida)