terça-feira, 26 de julho de 2016

Um Não Eu.

Eu não tenho fé em mim, não tenho fé nos outros, não tenho fé em Deus.
Eu não tenho fé.

Fui tão destroçada de dentro para fora e de fora para dentro que nem sei onde procurar os pedaços de mim. Se eu encontrar alguns, nem reconhecerei!

Com tantos pedaços triturados, tornei-me sem facção, clã, religião. Não atraente à Deus ou ao diabo, não pertencente ao céu ou inferno. Nem caminhante no limbo sou, pois não pertenço à margem. Se na margem houvesse uma orla, ainda assim não faria parte. Não sou símbolo de opostos e se nos opostos houvessem avessos, ainda assim não o seria.

Se não sou, não pertenço, não tenho: não vou.
Eu só sinto. Dor. Em partes que já me foram arrancadas, sinto dor.
Lastimo, penso e sei que nem existo.
No mundo, vegeto.

Inerte, vislumbro um eu que não posso ser.


(Liliana Almeida)

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Cena 9001 e contando...

Uma das sessões extraordinárias do espetáculo ocorrido no último dia 17/04, o que muito se tem falado é sobre o comportamento do deputado Jean Wyllys. E por incrível que pareça, a maioria das pessoas que se manifestaram nas redes sociais, não só exaltaram o deputado Jean, como defenderam o seu comportamento frente ao Bolsonaro.

Se ele, de fato, foi vituperado, torturado moralmente como diz, eu entendo sua cólera, sua inquietude emocional e conceituo que ninguém merece sofrer tal escárnio. Entretanto – veja bem – entretanto, achei ridículo e discordo terminantemente do meio que ele encontrou para reagir ao insulto, pois por tudo que ele é, pela formação que possui, pelo cargo que ocupa, espera-se um comportamento diferente. Agindo assim, ele conseguiu superar a baixeza do “canalha” que o injuriou.

O que me deixa com “urticárias”, verdade seja dita, é o fato das opiniões / manifestações tomarem proporções que afugentam o bom senso, a educação, as boas maneiras e, principalmente, incitam e/ou apoiam a agressão, seja física ou verbal. E o curioso é que a maioria das pessoas que expressaram opiniões, são apologistas da paz, do preconceito racial, da indisposição que muitos ainda nutrem contra os homossexuais, etc. O que é que estamos defendendo mesmo?




Outrossim, é válido lembrar que meu texto não inocenta o Bolsonaro em absolutamente nada. Ele nem no inferno é uma vítima, bem como o Jean (medido por esta postura) também não o é. Naquele espetáculo em que a Literatura renascentista intitularia de tragicomédia, a real vítima não se fazia presente. O Povo!



(Liliana Almeida)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Basta!


Não basta ser cordial, tem que ser requintado.
Não basta ser amigo, tem que ser devoto.
Não basta ter fé, tem que ser fanático.

Não basta ser suplente, tem que ser ‘estepe’.
Não basta sorrir, tem que ser palhaço.
Não basta ser inteligente, tem que ser erudito.

Não basta ser simpático, tem que ser cativante.
Não basta ser bom, tem que ser magnífico.
Não basta ser muito, tem que ser tudo.

Não!  Basta!

(Liliana Almeida)



Decepção

Minha gratidão vai a você:

Você que nunca foi fonte de inspiração aos meus poemas!
Você que ao cruzar meu caminho e me saudar com “bom dia”, não se fez notório.
Você que jamais chamou minha atenção com o seu olhar, seu sorriso, seu andar.
Você que nunca gozou de minha consideração e que nunca soube como de mim se aproximar.
Você que mesmo presente parecia ausente por tua expressão não impressionar.
Você que de tão ordinário, não possuía palavras a me encantar.
Portanto, obrigada! São pessoas como você que nunca irão decepcionar!




A decepção existe quando depositamos confiança, admiração, afeto.
Quando deixa de existir a fidelidade, cumplicidade, respeito.
E não há ninguém mais versado em nos desapontar do que aqueles que mais próximos de nós estão. Do que aqueles que mais nos conhecem, que sabem de nossos pormenores, de nossas fraquezas, de nossos assombros.

É assim que é.
Se não quisermos ser decepcionados, vivamos ao ermo.


(Liliana Almeida)