Certa manhã, aquelas que sinalizam a chegada
do inverno, acordei atordoada e ao reparar no relógio percebi que estava
atrasada. Acelerei meus passos ao banheiro e no caminho acabei tropeçando e
cai. Ainda antes da costumeira irritação, parei e permaneci sentada ao chão.
Por alguns instantes fiquei quieta, imóvel, olhando o nada e foi então que
percebi.
Com a pressa do tempo e as obrigações mundanas tudo foi se dando rápido
demais! Os acontecimentos parecem que circulam entre nós mais rápido que a velocidade
da luz e, assim, passamos despercebidos; das coisas, das pessoas e de nós. Lemos,
vemos ou comentamos, mas tudo visita as nossas emoções de modo superficial.
Chega nela e nela mesmo se dissolve; não permitimos, mesmo inconscientemente,
que suba ao coração. Tantas coisas roubam nossa atenção, mas estamos
desacostumando a emoção da entrega, da afeição, dos detalhes que definem as
relações. Será que é tempo que nos falta
para perceber?
A modernidade do tempo presente nos induz à dureza do coração e estamos
nos adaptando facilmente e silenciosamente à insensibilidade. Quase não nos
permitimos a graça de observar e sentir: sentir o sol, sentir o frio, o amor, o
desamor, a alegria, a tristeza. Parece-me que a aceleração do tempo levou
consigo as nossas sensações. Levou de mim os sentimentos!
Hoje me olhei. Percebi! Descobri que não sinto nada, nem de bom nem de
ruim. Percebi que se a manhã está fria ou quente, não faz diferença; não
enxergo nelas nem boniteza nem horrorosidade. Percebi que acabei por
descuidar-se de mim mesma e me esqueci. Meu coração encontra-se longe de mim;
não sei aonde vim parar. Onde é esse
lugar? Por favor, alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha; alguma
alma, mesmo que penada, me empreste suas penas; eu já não sinto amor,
nem dor; já não sinto nada.”
(Liliana
Almeida)
Você é um ser pensante, sensível e profundo...
ResponderExcluirParabéns pelos lindos escritos...
Oi Fernando Vaz, muito obrigada pelas palavras e pela presença.
ExcluirVamos pensar juntos qualquer dia desses e aí vc transforma nossos pensamentos em canções... (risos)
Abraços!