Acabei de chegar! Vim de muito longe;
25 anos de distância. Tudo parece muito diferente, só eu que não. Mas isso era
o que pensava antes de colocar-me frente ao espelho. Porém, por momento,
deixarei o espelho de lado, não importa a mim esta realidade. Ah os sonhos! O que
são, não é? Para alguns são uma projeção de uma possível realidade, para
outros, são apenas fantasia e imaginação que acabar-se-ão perdidos na memória
cansada.
Sabem, quando chega este cansaço,
nós, já vividos, parece que queremos resgatar nossa identidade por meio da
memória e assim sentamo-nos e fitamos nosso olhar perdido no aparente “nada”.
Um nada para os que nos observam, mas
nós, do olhar perdido, nem ali estamos. E foi assim que fui aos 25 anos atrás e
vi e, acreditem vocês, quase revivi. Dos
meus lábios trêmulos escaparam algum sorriso; meus olhos já quase cobertos
pelas expressões que o tempo não perdoou, cintilaram-se por algum momento e na
sequência até uma lágrima brotou.
É, na São Paulo de 1900 e alguns,
minha vida foi uma aventura! E, à parte toda situação vivida pelo país, eu me
diverti. Entre sofrimentos e alegrias, paixões e desilusões, amores que se iam
e outros que cedo vinham, amigos que chegavam e outros que partiam; entre um
livro e um rock, entre beijos e abraços dos amigos e inimigos, dos chegados e
desconhecidos, entre uma bebida e um cigarro, entre o desatino e a lucidez, eu
aprendi. Não fossem os fatos vivenciados, eu nem estaria aqui.
Mas olhando nitidamente de modo cronológico
a vida que se foi, como que passando a vista sobre linhas escritas em um livro,
esperava outro desfecho. Não sei se pulei algumas páginas e perdi a sequência
dos fatos ou se, de fato, quando a situação era real eu me perdi e por tal
razão o final não foi o desejado. Ah vida! Quem ficou devendo a quem? Meto-me
dentro de mim mesmo e me pergunto; depois respiro fundo e silencio.
Como eu saberia que algumas lacunas
deveriam ter sido preenchidas de outra forma se não as tivesse desenhado assim?
É pelo quadro da vida que desenhei que a existência se mostra para mim desta
forma agora. É um retrato desalentado, mas não feio. Nem sempre é possível achar
ânimo quanto tudo que nos restam são as lembranças e a falta de tempo para
corrigir alguns detalhes!
Porém, eu não disse a pouco que
percorrendo minha cansada vista sobre as linhas do livro da minha vida até
sorri? É que no final as coisas parecem embaraçar-se e aí a gente recorre ao
começo para tentar entender alguns pormenores e acabamos por nos perder entre o
que foi e o que poderia ter sido. É um descuido; vacilo dos que se metem enveredar
pelo emaranhado das memórias passadas; o que atraem para si é um verdadeiro
labirinto.
Esta linha do tempo me deixou perdido! E agora,
a essa hora, já não terei tempo de encontrar-me. E então, seguirei assim, entre
um tempo e outro, sem entender mais o que foi e o que é; sem distinguir entre o
real e o imaginário, sem reconhecer o meu retrato, evitando encarar o espelho
para não encontrar um desconhecido. É...na bagunça de minhas memórias me perdi
e não me fiz entender! Então, voltarei meu olhar ao nada e permanecerei no
mundo da ilusão e vocês, talvez, olharão para mim e nada entenderão. Nada
enxergarão. Entretanto, adiante, acharão duas faces em um só retrato: o vosso.
Então saberão o que sei agora e compreenderão.
(Liliana
Almeida)
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