quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Longe de mim


   

           Certa manhã, aquelas que sinalizam a chegada do inverno, acordei atordoada e ao reparar no relógio percebi que estava atrasada. Acelerei meus passos ao banheiro e no caminho acabei tropeçando e cai. Ainda antes da costumeira irritação, parei e permaneci sentada ao chão. Por alguns instantes fiquei quieta, imóvel, olhando o nada e foi então que percebi.

      Com a pressa do tempo e as obrigações mundanas tudo foi se dando rápido demais! Os acontecimentos parecem que circulam entre nós mais rápido que a velocidade da luz e, assim, passamos despercebidos; das coisas, das pessoas e de nós. Lemos, vemos ou comentamos, mas tudo visita as nossas emoções de modo superficial. Chega nela e nela mesmo se dissolve; não permitimos, mesmo inconscientemente, que suba ao coração. Tantas coisas roubam nossa atenção, mas estamos desacostumando a emoção da entrega, da afeição, dos detalhes que definem as relações. Será que é tempo que nos falta para perceber?

         A modernidade do tempo presente nos induz à dureza do coração e estamos nos adaptando facilmente e silenciosamente à insensibilidade. Quase não nos permitimos a graça de observar e sentir: sentir o sol, sentir o frio, o amor, o desamor, a alegria, a tristeza. Parece-me que a aceleração do tempo levou consigo as nossas sensações. Levou de mim os sentimentos!

         Hoje me olhei. Percebi! Descobri que não sinto nada, nem de bom nem de ruim. Percebi que se a manhã está fria ou quente, não faz diferença; não enxergo nelas nem boniteza nem horrorosidade. Percebi que acabei por descuidar-se de mim mesma e me esqueci. Meu coração encontra-se longe de mim; não sei aonde vim parar. Onde é esse lugar? Por favor, alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha; alguma alma, mesmo que penada, me empreste suas penas; eu já não sinto amor, nem dor; já não sinto nada.”



(Liliana Almeida)

2 comentários:

  1. Você é um ser pensante, sensível e profundo...
    Parabéns pelos lindos escritos...

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    1. Oi Fernando Vaz, muito obrigada pelas palavras e pela presença.
      Vamos pensar juntos qualquer dia desses e aí vc transforma nossos pensamentos em canções... (risos)
      Abraços!

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