quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A moça

          Súbito saí no horário de onde estava. Na calçada, olhei para o lado esquerdo e o direito. À esquerda parecia que a única direção possível era a contrária, pois a rua não era só escura demais, como parecia fechada por muros altos. Por ali impossível passar. Logo, trilhei na direção oposta; rumei por direita.
             A rua escura, um tanto deserta, passavam velozes por mim alguns carros. Não sei ao certo quantos; eu, um tanto apreensiva, seguia a pé.          
            Preocupada com o breu, avistei há alguns poucos metros de mim, uma pessoa. Pelos cabelos grandes e a finura do corpo, parecia uma moça. Apertei os passos tentando acompanhá-la. Ela seguia veloz e parecia não me notar e eu, correndo, tentava tocá-la ao ombro e insistia em chamar: “moça”, “moça”, mas era em vão. Embora ela parecesse tão perto de mim e tão acessível ao meu toque e ao som de minha voz, não conseguia encostar e nem ter sua atenção; inútil era meu esforço.          
           De repente, quase que em um piscar de olhos, tal como estava nítida à minha frente, como um raio, deixando só a faísca do rastro, sumiu. Desapareceu naquele horizonte sombrio. Aturdida, receosa, já em pânico, deparei-me em um lapso e nele fui levada à luz do entendimento.          
         Aquela moça veloz, indiferente e pretensiosa, era o Tempo.Em grande pressão anímica, moída e destroçada, conformei-me em saber que nunca iria mesmo acompanha-lo. Caí em mim, como em um poço seco e fundo e percebi como somos lentos e escusados numa esfera que em segundos foge à nossa vista e nos deixa vulneráveis.



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