quarta-feira, 10 de julho de 2013

Carta para um amigo distante



          Veja como é a vida! Não sou nem uma Lembrança, mas costumo ser consumida por ela. Em um ponto no tempo que é só meu, me pego presa às lembranças que tenho de ti. Algumas, já até perdeu a viveza; estão como papel desbotado que foi consumido pelos muitos períodos passados. Fora aquelas que não me sobrou a capacidade de inventar, existem alguns momentos em que determinadas canções, autores, livros e instantes refletem o teu rosto;  sorridente às vezes, outras, sério a engendrar tuas reflexões. De igual modo, as mesmas canções e instantes, remetem-me às tuas piadas que, de sem graça na maioria das vezes, arrancavam meu sorriso; talento peculiar teu.

          Tenho pra mim que talento é algo inerente a ti. É teu dom saber amar intensamente e, também, não saber amar; saber interpretar o mundo e filtrar o que de bom existe nele; saber transportar as pessoas e coisas para intermináveis páginas e fazer suscitar as entrelinhas, fundamentais, que poucos têm a capacidade de ver / ler; saber esboçar belos sermões que ligam as almas a Deus e as conduzem ao Céu.

          Bem assim és, o “atleta” dos extremos! Um ser humano condicionado, sensível e acolhedor e, ao mesmo tempo, à parte a cronologia, és absoluto, severo e seletivo. Esta é a figura que desenho de ti. Assim minha alma o pinta. Contudo, não és diretamente responsável pelo devaneio de minha mente. Muitos de nós, seres humanos, vez ou outra, fica cambaleando sobre a linha tênue que divide a sensibilidade e a loucura e leva a alma a delirar inquieta pela falta que alguém faz.

          Em alguns momentos parece que ouço tua voz interpretando alguma canção, aquelas que são teu retrato, e logo me lembro de ti; é como a conhecida raposa no meio do trigo recordando o principezinho. São devaneios provocados pela saudade que leva o âmago a chocar-se com a solidão que tua ausência provoca. Senti-me cativada e logo meu coração foi entregue a ti.

          Alguém antes de mim disse que amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves dentro do coração. Igualmente, continuas bem guardado no lado esquerdo do peito independente do que dizem o tempo e a distância. Voaste, mas no meu pensamento permaneceste. Portanto, aconteça o que tiver que acontecer, passe quantas estações precisarem passar, mas qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar; qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar!


(Liliana Almeida)

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